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(...) O caso faz lembrar
o ataque orquestrado por juízes estaduais do Paraná contra
o jornal Gazeta do Povo, por causa de reportagens que
informavam à população da existência de salários acima do teto legal no
Judiciário local.
Núcleo ANIBRPress
Por
ter publicado o valor do salário de um servidor público que atua como contador
na Câmara Municipal de Corumbá (MS), Erik Silva, editor-chefe do
site Folha MS, está sendo processado por calúnia, injúria e
difamação. O jornalista nada mais fez que colher e interpretar dados que
estavam disponíveis no Portal da Transparência. Assim,
constatou que o profissional lotado no órgão Legislativo recebeu, em
março, vencimentos de mais de R$ 45 mil — acima do teto permitido por lei,
de R$ 33,7 mil, correspondente ao salário dos ministros do Supremo
Tribunal Federal.
A ação
que tramita na vara criminal foi impetrada quatro dias depois de o texto
produzido por Silva ir ao ar, no dia 21 de abril. Um detalhe chama a atenção: o
nome do servidor, Júlio Cesar Bravo, não chegou a ser mencionado no texto. O
Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul abriu inquérito para
apurar possíveis irregularidades no Legislativo de Corumbá.
A
reportagem foi publicada sem o posicionamento do servidor e do
presidente da Câmara Municipal, vereador José Tadeu Vieira (PDT), mas o
jornalista enfatiza que retornou os contatos com os dois depois de ter
divulgado o conteúdo.
“Voltei
a me prontificar em divulgar os motivos de tanto dinheiro para o contador e,
dessa vez, ouvi do presidente da Câmara que não iria se pronunciar. Porém, em
tom intimidador, ele disse que o jurídico tomaria as providências”, contou o
jornalista em entrevista ao portal Comunique-se.
Tadeu
Vieira não respondeu aos questionamentos de meses atrás, mas aparece como
testemunha da acusação no processo movido contra o profissional da imprensa,
assim como a servidora — que não teve o nome divulgado até o momento — que se
tornou pauta para o veículo sul-mato-grossense por ter recebido em um único mês
vencimentos que ultrapassaram os R$ 32 mil.
Ataque
orquestrado de juízes contra imprensa
O
caso faz lembrar o ataque orquestrado por juízes estaduais do Paraná contra
o jornal Gazeta do Povo, por causa de reportagens que
informavam à população da existência de salários acima do teto legal no
Judiciário local.
Todas
as ações dos juízes são idênticas, pedindo direito de resposta e indenizações
por danos morais, que somam R$ 1,3 milhão, segundo o jornal. De acordo com a Gazeta,
os pedidos são sempre no teto do limite do juizado especial, de 40 salários
mínimos. Já houve uma condenação, em R$ 20 mil. Das 36 ações, só duas são de
promotores.
Parte da estratégia dos juízes é pedir em juizados
especiais. Por lei, antes de as ações serem instruídas, as partes devem
participar de audiências de conciliação. E como as ações são em 15 municípios
diferentes, os jornalistas autores das reportagens têm de viajar pelo interior
do Paraná para comparecer às audiências.
Em
julho, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu os processos. Na mesma época, em evento em São
Paulo, a ministra Cármen Lúcia afirmou que as ações coordenadas dos juízes
contra os jornalistas deram um novo sentido à expressão "censura
judicial".
Cármen
explicou que, até então, a censura judicial tratava-se de liminares concedidas
por juízes para impedir a publicação de determinadas notícias. Agora, com o
novo caso, os juízes passaram para o polo ativo do processo.
Texto
publicado na Revista Consultor Jurídico, 4 de novembro de 2016